O Cósmico Segredo das Horas Vagas

28 dezembro, 2005

+Eu, Ele, Foie Gras e Champagne


Passou num ápice... Uma viagem à Indonésia, outra ao Sri Lanka. Uma semana na Holanda, três dias em Berlim. Um fim-de-semana em Cabo Verde e 3 meses de baixa. Uma gravidez ainda por terminar e uma greve laboral com protesto ainda a decorrer.
2005 foi bizarro. Telegráfico.
Altos, baixos, 2 amigas a desovar, um cão e um gato em casa paterna, despesas, um tecto na cozinha húmido, umas desilusões acesas, três amigas embuchadas, um divórcio... Apetece-me desfiar o ano desta forma porque assim o senti passar-me pelo pêlo. Talvez por isso, tomámos uma decisão. Tomei. Rapidamente consentida por Ele.
Um ano passageiro... uma passagem degustada. Nem festas, nem viagens, nem grupo, "grupes" ou "amigues". Decidimos ficar em casa. Sozinhos. Se tudo correr bem, será a última nos próximos 18 anos, até Ela dizer "Ó, pai... diz à mãe que vou para o Terreiro do Paço ver o fogo de artifício com o pessoal lá da escola. Bom Ano!"...
E se assim são os prognósticos para o futuro é melhor gozar o presente. Temos terraço, Tejo e fogo de artifício na linha de vista a 180º. Trafaria, Almada, Seixal, Barreio, Lisboa e Cascais vêem-se à distância. Temos telescópio caso haja dúvidas! Duas camas de baloiço e um edredon extra. Na lista de compras está incluído o Foie Gras (não há cá pastas de fígado foleiras. 39,49/k), o Champagne (tenho esscrito algures o que o F me recomendou) e uns gourmets delicioso ainda a pesquisar e adquirir.
Vai ser assim. Não é gostoso?

24 dezembro, 2005

+Mulheres a mais e homens a menos


São um bicho estranho, as mulheres... Lêem nas entrelinhas o que não tem leitura, prevêem finais quando tudo vai a meio, desencantam defeitos nos mais perfeitos cenários. Há uma língua aguçada em cada uma delas e um convencimento de que são absolutas donas da verdade, as mais belas criaturas e um pretenso moralismo com que pensam estar aptas para conceder lições de bons costumes e boas amizades. Fala a percentagem (alta e ainda bem) masculina do meu cérebro! E falo com experiência própria...
Os SMS, inventados com os olhos postos nas mulheres, tornaram-se a forma predilecta com que "largam as bombas" ou debatem a cristandade dos actos. Honestamente, os meus 15 anos já lá vão... e hoje prefiro o face a face, sem rodeios ou meias palavras. A frontalidade é ter essa coragem de evitar os "tontos recados" virtuais e atender os telefonemas custem eles o que custar. E são muitas as que usam, abusam e se aproveitam a facilidade com que a palavra escrita é difundidade... ficam cheias de si, enaltecidas e orgulhosas da capacidade digital (este vem de dedo...). Deixá-las estar! Mulher feliz é mulher que chateia menos...
Mas ainda hoje me espanto com a vaidade e a crueldade femininas no seio de pares. Não me faltam exemplos dos maus frutos de "excesso de gajedo" em confraternização. E quanto mais se cria este ajuntamento, maior a prática da má lingua onde é tudo é tópico e motivo de comentários menos próprios ou dignos... «namorado de x é muito feio e tem ar de velho... a b é uma desequilibrada.... a y é tão horrorosa que não deveria aparecer publicamente... a d explora toda a gente... a w é muito minha amiga mas ganhou um prémio às minhas custas». Não é bonito...
Padecem desta anomalia do escárnio e do mal-dizer. E, garanto, é uma anomalia genética do "x" de que algumas mulheres padecem e que acaba por contagiar as mais singelas que as rodeiam. Um "umbilismo" de quem "não se manca", não se ajuiza e que não coloca em questão a possibilidade de cometer erro ou pecado. Erros cometem os outros...
Já devo ter tido os meus momentos menos simpáticos mas, actualmente, surpreendo-me com aqueles que algumas mulheres me oferecem... que me batem "aos pontos" no meu mais negro lado! Criticam, entre umas e outras, o perfume da fulana, as cáries de beltrana, almoçam na casa da fulana e vão para os copos com beltrana. Vivem na aparenta paz, podre na base, de que a convivência é amena e feliz. Fazem-se alianças frágeis, quebradas quando deixam a língua dar-se a outras práticas mais carnais, quando os olhos não pousam nos atributos das Outras e se deliciam com a atenção de um Outro. Entre homem, sai mulher.
A maledicência ainda é compreensiva na dita adolescência... onde a competição e a frágil estrutura fraterna existem... onde os valores morais ainda estão em construção. Aos 30 não tem justificação ou perdão. Ou vivo noutro mundo ou tenho um homem dentro de mim.

16 dezembro, 2005

+ Mundo e Crianças de Pernas para o Ar...


Vai ser um verdadeiro cliché... mas aqui vai disto.
Tive entre mãos uma peça especial sobre os casos de morte de menores por violência e maus tratos tornados públicos no último ano. Acharam de mau gosto a atribuição da mesma à minha pessoa, tendo em conta a proeminência abdominal que me cresce há sete meses. Tive de os recordar que um mês depois do meu regresso, após os longos 90 dias de baixa, estive com um pé no carro para uma reportagem sobre o lançamento do livro «Sete razões para o Aborto» ou coisa que o valha... Talvez tenha o benefício ou a capacidade de me separar das diversas funções de que a minha vida se ocupa. Se é no papel de jornalista que me centro é nele que existo, me foco e ali permaneço sem distrações morais ou convicções pessoais... Talvez por isso, a Indonésia seja ainda recordada como uma vaga e ténue experiência e que o cheiro nauseabundo já pouco familiar seja ao meu olfacto.
De qualquer modo, fiz a dita reportagem o melhor que soube e pude, tendo em conta as duas horas que tive disponíveis... No final, já a despir o papel informativo, deixei a minha marca com nuances, não de pré-mãe, mas de humana.
Estes pais, que abusaram, usaram e violentaram os filhos que lhes foram dados, jamais mereceram a benção que é ter um filho. Se o meu início foi conturbado, o final tem sido suave e assim esperemos que continue... mas o que me rodeia, um mar de sacos amnióticos e barrigas avantajadas, revelam das mais puras injustiças.
Em casa, a conter o risco e em total descanso e repouso, estão duas companheiras da jornada materna. São filhos desejados, muito desejados, programados, projectados e que insistem em dar dores de cabeça às mães. De cabeça para baixo, cedo demais, estão ali, coladinhos ao colo do útero, à espera de uma saída de rajada que ainda não pode acontecer. Têm todos os mimos médicos... as ecos em dia, a medicação apropriada, o acompanhamento próximo da obstetra, e o bom senso dos pais em seguir, à risca, o que manda a lei da "concepção saudável".
Outros, passam pelos 9 meses sem análises ou ecos... sem ouvir falar de toxoplasmose ou rubéola. Saltitam da Carris para a Transtejo, não passam horas nas urgências com hemorragias ou meses a progesterona para sarar os descolamentos de placenta. Não estão interessados em escolher nome, em saber o peso ou se têm ossos do nariz. Ainda não sei porque os carregam tanto tempo para, em tão pouco tempo, revelarem tão pouco afecto. Ninguém pediu para nascer... é de conhecimento do rico e do pobre o telefone das parteiras ou as Clínicas de Badajoz... Há coisas que não têm mesmo explicação.

08 dezembro, 2005

+ Cruzes, credo e muita azia



Ando a vaguear pela casa, como se tem tornado meu apanágio, a horas tardias e não estou etilizada (coisa que devo evitar desde há sete meses para cá) ou alterada pelos contornos da vida nocturna (coisa que simplesmente NÃO consigo com os 13 quilos a mais que carrego nesta minha estrutura corporal). Entrei no maravilhoso mundo da AZIA... e se o termo se aplica metaforicamente para algumas personalidades que pontilham a minha vida, pública e social, actualmente conheço o amargo literal do termo!
Reconheço que a crença popular de que o excesso capilar do embrião é o motivo para tamanho desconforto no esófago é totalmente barroca, bacoca e chalopa! A bacana subiu, pressiona o estômago e lá vai disto! Refluxos a torto e a direito e não há antiácido que resista, nem chá quente, nem amêndoa com pele (outra crença popular...) nem leitinho magro. Como tal, nesta noite em branco passeio pela casa com a azia de lado a marterizar-me a vida e o sono.
Não deixo, no entanto, de sentir que existem "azias" de efeito bem mais nefasto... se houve coisa que me deu um ácido daqueles (não estamos a falar de estupefacientes!) foi mais um discurso demagógico/tonto/intelectualista do nosso Louçã... que esquecendo de envergar a camisinha Façonnable, bem característica do seu camarada Rosas, surgiu de lã (en)cardada a desdizer e a amaldiçoar os crucifixos nas paredes das escolas. O mesmo homem, de batina invisível e oratória eclesiástica de quem sofreu abusos e frustrações no seminário onde cresceu, veio em defesa da parede vazia. Ora aí está uma medida que muito influirá na melhoria de vida dos portugueses, na progressão socio-económica e no desenvolvimento cultural deste nosso povo que já carrega uma bela cruz... às costas.
Devido à ocupação da Mãe, andei de escola em escola durante os 4 anos do 1º ciclo, então designado de Primária. Os Ministros mandavam, a mãe lá ia... e eu atrás, que a vida não era para infantários, tempos livres ou ATL's. Não houve ano que repetisse o mesmo estabelecimento. E quase todos, de aspecto bolorento e salazarento, deveriam, concerteza, ostentar um Cristo nas paredes, por cima do quadro negro. Não me lembro, não me recordo e, muito honestamente, a imagem, chocante ou não, não deixou marcas na memória, na vista e não feriu a minha pobre alma.
Não vou à missa, entro em vulgar confronto com a instituição católica, não pretendo baptizar a bacana e não casei pela Igreja. Na verdade, com Cristo na parece ou não, a minha vida tem-se pautado por um lllooonnnngggggooooo e verdadeiro pecado aos olhos da Igreja, e não foi a presença assídua do Salvador nas paredes das escolas que frequentei que ditou o meu modo de vida.
Somos um estado laico, concerteza... Crucifixos, felizmente para uns e com tristeza para outros, são hoje ornamentos já sem nexo nas escolas. Bibelots tão santos quanto os ponteiros (há muito abandonados graças a... Ups! Somos um estado laico!!!), o mapa de Portugal com as principais vias ferroviárias ou o quadro de Sampaio. Pedir a retirada dos ditos do interior das salas de aula só me parece plausível se um pai ou encarregado de educação de um aluno fizer muita questão e requisitar o dito procedimento à escola... O problema levanta-se se, a par desse pai ou dessa mãe, se manifestarem os restantes paizinhos em defesa do crucifixo. Temos levantada uma verdadeira guerra santa que, até hoje, não existiu. Os meninos e meninas iam às aulas... aprendiam a ler e a escrever... cresciam e procriavam e nem se lembravam, nos seus piores pesadelos, que teriam passado por escolas com crucifixos na parede. Honestamente, não há Renie ou Konpensan que resista a esta azia...