"Peter Fault"
Foi numa tertúlia nocturna no Trianon, que pela primeira vez ouvi falar no Peter. No meio de tanta cerveja e discussão pseudo-académica, pseudo-intelectual, pseudo-política ou pseudo-outra-coisa-qualquer, o meu amigo Engenheiro, titulo académico adquirido logo no primeiro dia de faculdade, referiu-se ao “Princípio de Peter”. A ignorância estava estampada no meu rosto. Provavelmente havia mais como eu, mas naquela mesa coberta com copos vazios só eu tive a coragem de perguntar ao meu amigo Engenheiro: “Ó Lourenço,” (só eu é que o trato assim), “quem raio é esse Peter?”
O meu amigo Engenheiro bebeu mais um gole de cerveja, olhou para mim com o seu ar doutoral e disse:
“Ó, ó, ó, ó Zé...”, (ele é um pouco preso da fala), “...tu nanananaão sabes o que é princííííípio de Peter?”
Anuí com a cabeça porque o álcool não permitia mais.
A explicação não podia ser mais clara! Homem de uma cultura elevada, o meu amigo Engenheiro tinha em casa um livro de cartoons da autoria de Augusto Cid, cuja personagem principal era inspirada num ex-presidente da república e rezava qualquer coisa assim do género:
“Quero agradecer ao General Tal e Couves por me servir de inspiração para este livro e por ser um exemplo vivo do Princípio de Peter:
Um Major soberbo
Um Coronel medíocre
Um General obsoleto!“
Fiquei esclarecido. A tertúlia continuou noite adentro e naquele ano de 1991, no meio de tanto álcool, dizíamos coisas absurdas como “Um dia o Santana vai ser Primeiro-ministro!”
Infelizmente, sinto-me um visionário, um verdadeiro adiantado mental.
Mas escrevo hoje em honra e memória de todos os Peters que conheci e passaram pela minha vida. Trabalho há 18 anos na mesma empresa, a fazer precisamente a mesma coisa desde o dia em que entrei e, ao contrário de muitos, ainda não tive a oportunidade de provar que posso ser um potencial Peter.
Pior para eles!
Lembro-me de uns quantos. Trabalhei nove anos na cidade dos “Estudantes-Doutores”, fábrica nacional de embriões políticos e afins. Geograficamente bem situada, os Peters formados na Lusa-Atenas, espalham-se de forma uniforme por todo o Portugal, portanto não é anormal dar de caras com um ex-brilhante estudante numa Administração Pública, no Parlamento, numa Secretaria de Estado ou, pior que tudo, num Ministério.
Mas isto tudo para dizer que estou desiludido e cansado deste “Petersgal”onde só a mediocridade vence, sendo a inteligência e o engenho relegados para segundo plano.
Quem sabe não é preferível viver na ignorância e julgar que o Princípio de Peter é o primeiro copo de gin tónico num bar açoriano.
Que seja!
À nossa!
1 Comments:
Já conclui que apesar de não ser do tipo de desistir do combate, às vezes o "corpo é que paga" e por isso e por causa disso, de vez enquanto quando recupero de alguma refrega ingloriosa, hiberno-em em gin ou outro liquor, que é a única forma de não irritar os neurónios com a cultura do vazio e da exaltação da incompetência. Infelizmente essa Regra da Menor Inteligência ao Poder é aceite em todos os quadrantes da vida pública portuguesa e em todos os partidos. Acho que acima do choque tecnológico o mais importante passaria por ex pela moralização dos concursos públicos para ascenção nas carreiras, de modo a haver uma verdadeira selecção dos mais capazes e competentes para poder tirar o país da pasmaceira reinante. Estamos completamente atolados e embrulhados em merda e ninguém dá pelo cheiro...ou será que tão todos com as cuecas borradas...de merda e de medo!!
1:32 da manhã
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