+ Família menos 1
Morreu o tio Augusto.
Tinha de morrer, mais tarde ou mais cedo.
Parece que já não estava muito “augusto” e a altivez de ontem jazia deitada num caixão barato. A minha tia sempre foi muito poupada. Lembro-me ainda de um Natal em que um pato alimentou mais de vinte bocas! Milagre da multiplicação do pato, não fosse ela muito religiosa. Muito Pai Nosso, Avé Maria, Actos de Contrição, Salve Rainhas e Credos e no meio da minha desculpa para não ir ao funeral, ela diz:
-Ainda bem que foi hoje! É quinta-feira Santa! É uma boa entrada no céu!...
Fiquei sem palavras. Este é um bom dia para morrer. Nunca tinha pensado em tal.
Boa sorte, tio. Não esperes por mim!
1 Comments:
Eu se tiver mesmo que morrer um dia gostava de morrer a uma segunda-feira. De manhã se me permitirem a preferência. Um tipo assim sempre arranja um borla aos amigos que para se baldarem ao trabalho vão comparecer em peso...
Também queria que fosse no Inverno para que as ferias de verão não me estraguem o funeral...
Gostava de morrer de repente para não sofrer e assim apanhar toda a gente de surpresa de modo a que fosse para todos um grande choque. Assim talvez possam haver montes de gajas a chorar e tipos a afogarem as magoas nas tascas sebosas do meu bairro. Nesse dias tenho a certeza que alguns taberneiros vão fiar copos à conta da minha memoria. E que se ainda pararem pintas pelas esquinas vão contar historias sobre mim elogiando os meus feitos e desvalorizando os meus fracassos.
A grande vantagem de morrer à segunda-feira é que no fim-de-semana seguinte já fomos passados à historia remota.
RM
6:04 da tarde
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