O Cósmico Segredo das Horas Vagas

19 maio, 2006

+Certezas

Não deve haver dor pior. É indescritível. Inominável. Nem em projecções emocionais será possível imaginar.
Perder um filho é algo surrealista. Perdê-lo in utero... perdê-lo ainda jovem, vê-lo partir antes de nós, invertendo a ordem dos factores, das regras do destino, da linearidade da vida. Não há nada que possa descrever o que um mãe e pai devem sentir. A secura, a petrificação, a terrível sensação de fim.
Durante muitos anos, o mais semelhante que tive foi a possível morte dos meus pais. Acordava a chorar, sentia uma angústia incrível. Desviava tais imagens mas sabia-as incontornáveis. Estranho é, agora, saber que os pesadelos que me assolavam sobre os meus progenitores teriam retorno. Que enquanto estremecia, de madrugada, com a ideia assustadora de os perder, muitas noites terão eles perdido com medos parentais... que terão sentido o coração nas mãos com a ténue possibilidade de uma morte minha ou do meu irmão.
Sempre soube que deveria ser algo terrível. Sempre disse que seria, decerto, aterrador e muito difícil de superar. Hoje, que sou mãe, tenho essa certeza ainda mais enraizada.
Só pensar, dói. Sentir deve ser inimaginável.
Ninguém sabe o que nos espera.
Deus nos livre.

9 Comments:

Blogger Cris said...

Eu penso exactamente o mesmo.
Sempre me aterrorizou o facto de um dia poder perder os meus pais - nem quero sequer imaginar...
Hoje, também sou mãe (o que ambicionava há muito tempo), vivo para a minha família e sou tão feliz que tenho medo que algo de mal aconteça e me acabe com a felicidade...
Deus nos abençoe a todos.
Beijinhos grandes e bom fim de semana.

4:37 da tarde

 
Blogger . said...

O que nós temos que fazer é fazer um esforço para confiar. Confiar, acreditar, sejá lá o que for. Porque não podemos ter medo a vida toda. Isso destruir-nos-ia...


*Mas que é das coisas mais perfeitamente aterradoras é.

4:59 da tarde

 
Blogger :P said...

Estou arrepiada!
Também eu durante muitos anos acordava a chorar com a hipótese dos meus pais morrerem. Muitas vezes sonhava inclusive que estava a vivenciar o funeral de um deles.
Era terrível!!
Agora tenho pavor de que algo possa acontecer à Bomboca.
Beijinhos pessimistas

9:59 da tarde

 
Blogger Diana Bento said...

Eu sempre pensei o mesmo: nunca suportaria perder os meus pais. Agora que sou mãe, ainda penso mais nisso e também que não suportaria perder o meu filho...

12:34 da manhã

 
Blogger Loira said...

Sim, nem quero imaginar... Deus nos livre, mesmo... Confesso q não sei lidar com a morte.
bj*

5:09 da tarde

 
Blogger Repolha said...

Sabes que já perdi o meu pai. E se achava que isso era terrível, não acho mesmo que seja comparável à dor de se perder um filho que, felizmente, desconheço (seja lá quando for como tu tão bem dizes). E mesmo na altura em que o meu pai morreu nunca sequer achei que poderia ser uma dor comparável. Talvez porque nunca se esteja preparado para morrer depois de um filho. Mas no fundo estamos cientes que, pela ordem natural das coisas, seremos nós a enterrar os nossos pais. Não sei...

11:47 da tarde

 
Blogger Mae Frenética said...

Como a Carla diz, ninguém está preparado para perder um filho.
Mas acontece.

E aprende-se a sobreviver, e não a viver.
Um dia de cada vez, e q o próximo não seja tão mau.

Uma beijoca

6:49 da tarde

 
Blogger Judas said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

5:55 da manhã

 
Blogger Judas said...

Deus nunca nos livrará...

e se por vezes apetece tanto cair no vazio, numa espiral sem retorno, em direcção a uma morte rapida e seca, é consciente a noção de ter de aguentar tudo, de ter que estar presente, de ver a aproximar-se dia após dia esse momento, evita-lo a todo o custo adiando-o, fazendo um esforço diario para alterar todos os factores que o possam impedir...

mas é um facto... a minha esperança media de vida é de 60 anos, a dela, de 40, os 25 anos que temos de diferença aterroriza-me, deixa-la sozinha num mundo que lhe será sempre hostil aterroriza-me, e quando penso nisso, vou-me conscencializando, que por muito que me doa, terei que me manter de pé para poder sentir essa machadada abater-se sobre mim...

O acompanhamento, de perto, da perda uma filha (uma irmã), de quem estará sempre demasiado perto, dá-me uma vaga ideia de como se morre por dento, de como o mundo acaba, e acabará seguramente nesse dia que me espera, daqui a 40 anos...

Nem Deus nos livrará....

5:58 da manhã

 

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