O Cósmico Segredo das Horas Vagas

23 maio, 2006

+O que te desejo...


Sou uma nostálgica por natureza. Desde que me lembro tenho saudades. De tudo e de nada. Desde jovem, miúda, sempre inspirada por um bucolismo oitocentista bizarro. Talvez por isso, por ser essa uma marca que me acompanha, dei por mim a lembrar uns tempos porreiros.
Recordo, há uns 20 anos, que as férias de Verão eram aguardadas deliciosamente. Que o primeiro pé que se punha na rua para 3 meses de brincadeira era acompanhado de um nervoso miudinho de quem tem o mundo na mão e a felicidade no peito.
Lembro que "íamos para a rua" brincar. A mãe ficava à janela. Da janela deitava-nos olho. Da janela chamava, a todo o pulmão, "Anda jantar!"... "Já chega!"... "Está na hora!".
Brincávamos na rua, ao elástico (1,2,3...1,2,3...1,2, 1,2,1,2,3), à Macaca, ao pino contra a parede, à bota Botilde, andávamos de bicicleta (BMX ou coisa do género), ao Mata, à Sirumba, ao bate-pé, às escondidas e à apanhada. Poucos carros passavam na rua. Tocávamos à porta dos amigos vizinhos. «Desce!»
Conhecíamo-nos todos. As mães de todos. «A X pode vir brincar?»
As noites eram quentes. Abafadas. Os mosquitos degladiavam-se nos postes de luz. As pessoas saíam à rua, ficavam sentadas nos muros, nas escadas e conversavam. Horas a fio. Noites quentes, transpiradas. Até tarde, muito tarde, ouviam-se gritos na rua. Contentamento. Puro.
As esplanadas estavam cheias, do outro lado da estrada. Muitas mesas, barulho e jovens, mais velhos... e ficávamos, do outro lado da estrada, a olhá-los a beber sumos e coca-cola. A pensar que, daí a uns anos, seríamos nós, já grandes, sentados na esplanada. Até tarde, muito tarde.
A essa esplanada só íamos de tarde, nas tardes quentes, para comer gelados de máquina. Uma máquina grande, cor-de-laranja, sonora, que cuspia gelados em caracol. Bauninha e Morango. Baunilha e chocolate. 50$00
À noite, voltávamos a sair. Até a mãe vir à janela para dizer que era tarde, muito tarde. Estava na hora.
Do que é que a bacana que me arranhava a barriga e que agora me adoça a vida virá a ter saudades? Espero que doces, como as minhas.

11 Comments:

Blogger RB said...

bem............... ganhaste-lhe o ritmo!!! não vim aqui uns dias e tu escreveste 5 posts!!!!!!!!!!
possa!!
que saudades, que saudades, esta palavra tão portuguesa e que sinto qunado escreves este post!! ai, ai!!! muitas, tantas...

Eu odeio o Noddy!!!!!! não percebo, não entendo!!! bahaaaaa

dieta... tenho dias, mais uns que outros....

:( a morte é algo tão perturbador e tão distante da nossa cultura..
que custa tanto a aceitar, o que é natural agora o anti-natura...

belas manias!

bjs (já está)

3:03 da manhã

 
Blogger . said...

Liberdade. Na altura era um pouquinho diferente. Havia menos medo da maldade humana e dos imprevistos. Tinha-se menos receio de deixar os filhos à solta, a viverem, a construírem essa paleta de doces saudades. Espero que possamos oferecer o mesmo aos nossos filhos. Espero mesmo! Adorei o seu txt.

11:55 da manhã

 
Blogger . said...

o TEUUUUUU. LOLLL

11:55 da manhã

 
Blogger Mae Frenética said...

Bombocas, senhores, as bombocas!!!! :))

1:02 da tarde

 
Blogger Tita Dom said...

E vão duas tb sou nostalgica... defeito? Feitio? Não sei mas gosto de o ser :-)

Beijocas

3:06 da tarde

 
Blogger Horas Vagas said...

Rutebruno: Olha, deu-me uma travadinha!!! O efeito Noddy é um enigma para mim, tanto mais que o dito boneco tem mais de 40 anos!! Mas acho que lá chegarei. A minha bacana deve apaixonar-se por ele não tarda!

Sofia: Já conhecia! Obrigada! É mais um tipo nostálgico como nós mas com espírito empreendedor! LOL

Estrelinha da manhã: De facto não havia muito medo, muitos receios. Confiava-se mais nas pessoas, talvez. Gostava muito desses tempos e tenho quase a certeza que não voltarão. Infelizmente. Outras coisas boas surgirão para os nossos filhos, espero.
:-) Beijinhos ao meu Bi
P.S.: Não, não, você deve manter esse distanciamento! O "seu" está muito bem. Pindérica!

Mãe Frenética: Pronto, e por tua causa está um novo Post em cima!:-)

Razão do sorriso da minha Alma: Eu também gosto muito desta qualidade. Por vezes, trás alguns dissabores. Curtir o presente torna-se complicado... Mas é uma batalha! Eheheh
Beijocas

4:44 da tarde

 
Blogger calamity jane said...

subscrevo integralmente a amiguinha estrelinha!
Como eu gostava q esta "evolução" e este "progresso" andassem agora um bocado às avessas!

4:44 da tarde

 
Blogger a mãe dos miúdos said...

vão ter outras coisas para recordar, claro. como tu espero que sejam doces.

e partilho as tuas memórias. estas e as dos doces.

(gostava tanto de jogar ao 7. de ir para casa só à hora de comer sem que a minha mãe estivesse preocupada. de ver todos os encontros e horários a serem cumpridos por não haver telemóvel para desmarcar)

6:19 da tarde

 
Blogger Loira said...

Ai a sirumba... até fiquei de lágrima no olho... brincar até às tantas na rua...

12:48 da manhã

 
Blogger :P said...

Tenhos menórias muito semelhantes, mas numa versão rural.
Aqui não havia prédios, as ruas não eram alcatroadas, ouvia-se os passarinhos, anoitecer a brincar na rua era uma delícia,...
Beijinhos sonhadores

3:12 da tarde

 
Blogger Santiagando said...

Isto faz-me lembrar uma certa conversa...

As saudades destas pequenas coisas que faziam toda a diferença...

12:10 da manhã

 

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