15 junho, 2005
+O Dia Seguinte
Gostava que a formatação deste blog permitisse a transcrição do poema no seu corpo lírico original. Gostava de não terminar este dia com esta sensação de vazio, de tristeza. E no silêncio da minha robusteza, no fundo da minha estrutura de aço, faz eco a queda de uma pontada de dor, aguda e cinzelada, formatada em lágrima. Fiz 28 anos. E os anos dos outros que me deram anos estão gastos como as pedras da calçada. Viver com isso todos os dias e reconhecer a solidão nos seus olhares, custa. Custa muito...
ADEUS
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,                                                                                                    e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes.                                                                           Gastámos tudo menos o silêncio.                                                                                                                                           Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,gastámos as mãos à força de as apertarmos,                               gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.                                                                                                  Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;                                                                                                                  era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar.                                           Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes. E eu acreditava.                                                    Acreditava,porque ao teu ladotodas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos, era no tempo em que o teu corpo era um aquário,                                          era no tempo em que os meus olhoseram realmente peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos.                     É pouco mas é verdade,uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.                                                                                                                                                                Quando agora digo: meu amor, já não se passa absolutamente nada. E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certezade que todas as coisas estremeciamsó de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.                                                                                                                                                          Dentro de ti não há nada que me peça água. O passado é inútil como um trapo.                                                                E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.


