O Cósmico Segredo das Horas Vagas

31 maio, 2006

+Urticária, urticária

Começo este post dizendo: não amamentei mais do que um mês e meio porque não pude. Porque não tive leite. Porque não foi possível.
Adianto, lembrando o post "Ainda sobre alimentação" anterior, que escrevi o quanto respeitava quem amamentava até às calendas gregas mas que não compreendia. Respeitava, mas não compreendia. E este MEU espaço permite-me escrever o que me der na real gana.
O comentário que uma leitora indignada deixou nesse post poderia nem merecer reparo. Mas merece. Pelos inenarráveis equívocos que levanta. Pelas pontas soltas que deixa. Pelos erros castradores, doentios para quem, como eu, não pôde amamentar ou para quem, simplesmente, não o quer fazer.
E respondo: nada sobre amamentação me faz rir, ao invés do que lhe acontece a si. Acho o tema demasiado sério e problemático para muitas mulheres para me deixar levar pelo escárnio.
Não leu, no meu texto, que não achava igualmente consternador uma criança de 6 anos usar chucha. Já lhe disse. Respeito mas não compreendo.
É ÓBVIO que existem médicos que defendem vários pontos de vista. É óbvio que a amamentação tem as suas vantagens. Só não são tantas quanto as apregoadas e nem durate o tempo incontável que se prolonga o acto. É importante nos primeiros 5 meses de vida. Aliás: é no primeiro mês, caso não saiba, que os anticorpos e defesas essenciais são transmitidos.
Gosto, especialmente, deste excerto que colocou:

«(...) defenda e tenha provado (?) que a amamentação até mais tarde faz com que essas crianças se tornem adultos mais seguros e independentes e até com nível de inteligência superior. (POR ESTA ORDEM DE IDEIAS, VOCÊ NÃO DEVE TER PROVADO PITADA DE LEITE MATERNO) Para já não falar nos estudos que provam (mais uma vez coloco um ponto de interrogação nesta palavra) que o contacto físico com as crianças dessa idade (amamentação incluída) os tornam mais confiantes, independentes, seguros.»

São estas ideias tontas que tornam mães inseguras, deprimidas e angustiadas. Adultos seguros e independentes porque mamaram? Mas tenho cara de atrasada mental? Mas julga que somos tontos? Que somos todos carne para marquesa de psiquiatra e ansiolóticos porque não mamámos?
Inteligência superior? Agora, sim. Conseguiu fazer-me rir. Quantos doutorados, professores catedráticos, prémios Nobel quer que nunca viram leitinho materno? Vir para aqui dizer que os filhos das mães que amamentaram serão mais inteligentes, seguros e independentes que os filhos daquelas que não deram mama é um disparate ofensivo e revelador de grande ignorância.
São ideias literalmente idiotas, como esta, que povoam os medos das mães que não têm a possibilidade de amamentar, que acompanham os filhos com o receio de que sejam retardados ou menos capazes porque não tiveram acesso a leite materno. Tenha juízo e muito cuidado com o que diz!

Quanto a mandar postas de pescada, minha cara... é como lhe digo. Aqui, escrevo o que quero. E quem aqui acede, parto do princípio, tem dois dedos de testa. Procura informação, documenta-se e constrói opiniões. Não tenho de ser demagógica ou pedagógica com ninguém ou socorrer-me de outros sites ou opiniões para defender o que eu própria defendo. Isso é típico dos inseguros (UMA VEZ MAIS, NÃO DEVE TER SIDO AMAMENTADA, APOSTO...).

«Mais: porque motivo se discrimina mais uma mulher que dá de mamar a um filho de 2 ou 3 anos, porque acredita que o está a proteger do que uma mulher que deixa de amamentar um filho com um mês porque lhe estraga os peitos, ou porque simplesmente quer mais tempo livre?!»

Descrimina? Mas quem descrimina? Alguém lhe corta as mamas, a despede ou lhe deixa de falar? Já lhe disse, e escrevi no primeiro post, que respeitava. Não deixo de emitir a minha opinião, minha cara! Estava o mundo mal parado se o fizesse.

«Eu limito-me a ter uma opinião sobre isso, mas longe de mim rir-me delas, fazer um post onde as minhas amigas possam reunir-se com pau e vergasta para bater nessas senhoras e onde todas juntas possamos fazer piadas de mau gosto sobre isso.»

De mau gosto é a sua incursão cibernáutica. O atentado que faz a quem participou nessa partilha de opinião. Onde todas deixaram claro o que pensavam. Dá de mamar há 2 anos? Deixou a sua filha, por isso, de ser alérgica? Afinal, segundo os especialistas, têm menos propensão a desenvolver alergias. Eu mamei 4 meses porque a minha mãe teve de ir dar aulas depois. Sou asmática e tenho rinite. E volto a questioná-la. Amamenta há 2 anos. A sua filha não tem alergias? Segundo o seu Blog, tem... e bem complicadas.
Terminou o seu auto-apelidado testamento pedindo desculpas pelos erros ortográficos. Deveria ter pedido desculpas a todas as mães e mulheres por todos os outros erros.

+Violência doméstica


Foi o primeiro de POUCOS actos, espero.
A manhã, depois do leitinho das 8 da matina, é passada "a duas" na cama dos grandes.
Acabamos sempre por adormecer.
Acordei, no entanto, com umas belas murraças na cara e uns dedos nas narinas. Abri os olhos. Lá estava a bacana, a olhar para mim. Pára e sorri. «Ora, ainda bem que acordaste que estou farta de estar para aqui sozinha a olhar para o tecto!»

+E, agora, um grande momento de televisão...


Eu. Esta amiga. A bacana que me arranhava a barriga e que agora me adoça a vida. Um seminario no CCB sobre Cultura de Redes.
Uma mesa redonda. Audiência intelectualóide/Nerd/freaks. Falamos de interfaces, webmaster, links, arborescências.
E eu, de pé, a cirandar com uma gaiata ao colo cheia de sono.
Eu, feita parva, no meio do público a adormecer a miúda que, de quando em vez, soltava um guinchinho de "ESTOU AQUI! OLHEM PARA MIM!"
Para o que eu estava destinada.

25 maio, 2006

+Estrelinha felpuda


Que me perdoem os mais sensíveis.
Ainda hoje me comovo com os animais. Sou sócia da Liga. Visito regularmente a União Zoófila, onde fui buscar um dos meus gatos.
Cresci com cães, piriquitos, canários, gatos, ouriços e até lagostins. Cágados e peixes.
Tenho de escrever isto.
Não convivi muito com ele mas sempre que me via fazia uma festa. Enroscava-se nos meus pés, subia-me pelas pernas para ter colo e dava pequenas lambidelas no queixo a pedir mimo. Nunca vi nada assim e já tive muitos na vida. Nem os 2 que cá tenho em casa destilam tanto carinho.
Nasceu de uma mãe doente e, em casa dos meus pais, encontrou, aos 3 meses de idade, uns donos que se apaixonaram por ele. Pequeno, negro, de grandes olhos amarelos. Encontrou uns donos que lhe trataram da rinite, que lhe trataram do pêlo, que todos os dias lhe administravam os medicamentos, que lhe fizeram um bebedouro com uma bomba, para que a água estivesse sempre a circular, facilitando a ingestão para um animal que mal respirava pelo nariz.
O Rafa não estranhava ninguém, deitava-se de barriga para cima para receber festas e dava pequenas mordidelas no rosto e festas com as patas. Olhava-nos nos olhos e sentia-se ternura lá no fundo da menina. Adormecia deitado no pescoço do meu pai.
Não convivi muito com ele mas o suficiente para saber que era único. Raro.
Pode parecer ridículo mas, para mim, os animais têm alma. E a deste era boa. Boa demais para nós.
O Rafa morreu hoje. Não resistiu a uma queda do 4ºandar. Rachou o palato, partiu as patas, teve um pneumotorax. Penou 12 dias, a soro, a oxigénio e nunca deixou de esbanjar alegria quando os donos o íam visitar. Todos os dias.
O Rafa morreu hoje e não consigo deixar de sentir um nó na garganta.

23 maio, 2006

+ E ainda sobre alimentação...

Estar a amamentar há 2 anos, 7 meses, duas semanas e dois dias é um completo e total absurdo.
Várias psicanalistas explicam a necessidade, de algumas mães, em perpetuar a dependência dos filhos. Adiam a autonomização dos mesmos, a integração no ritmo das crianças da mesma idade e sentem prazer em manter esse contacto físico, numa necessidade ultra de se sentirem úteis e poderosas. Descuram a imagem, anulam as restantes facetas de mulher, reduzem-se a mães induzindo, enquanto o organismo permite, o comportamento basilar de produtora de leite.
Tem tratamento...


P.S.: Hoje estou... sem papas na língua. Mas há coisas que me ultrapassam! Posso respeitar mas compreender, recuso-me. É-me humanamente impossível! O tema é farto e profícuo. Voltarei a ele com tempo.

+É boca doce, é bom, é bom, é...


A pedido de várias famílias, da lembrança desta mamã, do meu estômago e da minha memória olfactiva e gustativa...
lembro de:

- Bombocas, ainda há, sabor a morango, baunilha e chocolate. Caixas de 4 ou de 6. Derretiam-se no céu da boca. De uma vez, dentro da boquinha para fazer estalar a bolacha.

- Gelados de água, compravam-se com cores arrepiantes de corantes açucarados nos supermercados. Punha-se no congelador e chupavam-se por um plástico longo que deve ter causado um entopimento nos esgotos do Atlântico.

- Bolas de Berlim e Línguas da Sogra na Praia. Gordurosas, quentes e apetitosas. «É frutóóó chocolate!»

- Pirolitos, vendiam-se à porta da minha escola, de caramelo, em palitos. Deliciosos... kilos de açúcar gostooooossssooooo.

- Sombrinhas de chocolate da Regina, agora não é a mesma coisa que a fábrica foi vendida à arqui-rival Favorita. Mas qualquer chocolate deles era fabuloso.

- Moedas de chocolate que se derretiam nos bolsos e davam dores de cabeça às mães...

- Pastilhas Gorila. Macilentas e duras. Não havia mais nada mesmo...

- Bolachas Maria a solo ou com manteiga... Nham!

- Néstum com mel. Qual chocapic ou estrelitas! Nestum!! Com a colher a ficar de pé no prato!

- Tulicreme... Era às colheradas no pão alentejano!

- Suchard Express , Toddy ou Ovomaltine. Chegava a comê-los à colherada! Pobre colesterol.

- Cigarros de chocolate que nos punham a fazer figuras ridículas com 6 anos e ar de viciadas na boca.

- Gemadas. Gema de ovo, Açúcar e bater com uma colherzinha. Quantas vezes me fingi de doente para ter acesso à delícia.

- Línguas de gato, às dezenas por dia. Era enjoativo mas não havia nada igual...

- Bolachas waffles de baunilha, antes das Oreo, vieram estas... separava as duas bolachas magistralmente, lambia o creme e mordia a bolacha!

- Bombozinhos de chocolate, pequenos, enrolados em papel-prata multicolor. No interior, uma geleia saborosa. Ainda hoje, alguns cafés colocam exemplares no pires. Nunca consigo comer menos de... 8!

Mais alguma coisa?

+O que te desejo...


Sou uma nostálgica por natureza. Desde que me lembro tenho saudades. De tudo e de nada. Desde jovem, miúda, sempre inspirada por um bucolismo oitocentista bizarro. Talvez por isso, por ser essa uma marca que me acompanha, dei por mim a lembrar uns tempos porreiros.
Recordo, há uns 20 anos, que as férias de Verão eram aguardadas deliciosamente. Que o primeiro pé que se punha na rua para 3 meses de brincadeira era acompanhado de um nervoso miudinho de quem tem o mundo na mão e a felicidade no peito.
Lembro que "íamos para a rua" brincar. A mãe ficava à janela. Da janela deitava-nos olho. Da janela chamava, a todo o pulmão, "Anda jantar!"... "Já chega!"... "Está na hora!".
Brincávamos na rua, ao elástico (1,2,3...1,2,3...1,2, 1,2,1,2,3), à Macaca, ao pino contra a parede, à bota Botilde, andávamos de bicicleta (BMX ou coisa do género), ao Mata, à Sirumba, ao bate-pé, às escondidas e à apanhada. Poucos carros passavam na rua. Tocávamos à porta dos amigos vizinhos. «Desce!»
Conhecíamo-nos todos. As mães de todos. «A X pode vir brincar?»
As noites eram quentes. Abafadas. Os mosquitos degladiavam-se nos postes de luz. As pessoas saíam à rua, ficavam sentadas nos muros, nas escadas e conversavam. Horas a fio. Noites quentes, transpiradas. Até tarde, muito tarde, ouviam-se gritos na rua. Contentamento. Puro.
As esplanadas estavam cheias, do outro lado da estrada. Muitas mesas, barulho e jovens, mais velhos... e ficávamos, do outro lado da estrada, a olhá-los a beber sumos e coca-cola. A pensar que, daí a uns anos, seríamos nós, já grandes, sentados na esplanada. Até tarde, muito tarde.
A essa esplanada só íamos de tarde, nas tardes quentes, para comer gelados de máquina. Uma máquina grande, cor-de-laranja, sonora, que cuspia gelados em caracol. Bauninha e Morango. Baunilha e chocolate. 50$00
À noite, voltávamos a sair. Até a mãe vir à janela para dizer que era tarde, muito tarde. Estava na hora.
Do que é que a bacana que me arranhava a barriga e que agora me adoça a vida virá a ter saudades? Espero que doces, como as minhas.

21 maio, 2006

Isto devia ser proibido.
Foi o tipo com quem vivo, com quem casei e de quem tenho uma filha que, na FNAC, apontou para o dito e disse: «Bonito, sim senhora!»
É que o Noody, além de fogareiro (com todo o respeito para com os taxistas) parece que é dealer... ou agarrado!
Ora vejam lá!

19 maio, 2006

+Tem de ser, tem de ser... tem MESMO de ser!

Constatação há dois dias:
«Volto a trabalhar daqui a um mês!»
Constatação seguinte:
«Ainda bem que pedi licença de 5 meses!»
Triste constatação após esta:
«AHHHHH... e que vou vestir quando voltar a trabalhar? As 3 saias e 1 calça que são as únicas que me servem?»
Constatação óbvia:
«Ou emagreço neste mês ou meto baixa!! Ou vou sempre com a mesma roupa...»
Consequência aterradora:
Comi bolo de chocolate ao lanche...

Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser,
Tem de ser,
Tem de ser, Tem de ser,
Tem de ser,
Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser, Tem de ser,
DIETADIETADIETADIETADIETADIETADIETADIETADIETA
DIETADIETA
DIETADIETADIETADIETA
DIETA
DIETADIETADIETADIETA

Quero um ZOLOFTTTTTTTT

+Certezas

Não deve haver dor pior. É indescritível. Inominável. Nem em projecções emocionais será possível imaginar.
Perder um filho é algo surrealista. Perdê-lo in utero... perdê-lo ainda jovem, vê-lo partir antes de nós, invertendo a ordem dos factores, das regras do destino, da linearidade da vida. Não há nada que possa descrever o que um mãe e pai devem sentir. A secura, a petrificação, a terrível sensação de fim.
Durante muitos anos, o mais semelhante que tive foi a possível morte dos meus pais. Acordava a chorar, sentia uma angústia incrível. Desviava tais imagens mas sabia-as incontornáveis. Estranho é, agora, saber que os pesadelos que me assolavam sobre os meus progenitores teriam retorno. Que enquanto estremecia, de madrugada, com a ideia assustadora de os perder, muitas noites terão eles perdido com medos parentais... que terão sentido o coração nas mãos com a ténue possibilidade de uma morte minha ou do meu irmão.
Sempre soube que deveria ser algo terrível. Sempre disse que seria, decerto, aterrador e muito difícil de superar. Hoje, que sou mãe, tenho essa certeza ainda mais enraizada.
Só pensar, dói. Sentir deve ser inimaginável.
Ninguém sabe o que nos espera.
Deus nos livre.

17 maio, 2006

+Mais UM


Eh, pá! Isto foi doloroso... mas tenho boas notícias: JÁ SÓ FALTAM DOIS!
Trabalhos, entenda-se!
A esta velocidade vou oferecer os meus préstimos a mestrandos preguiçosos. Por um orçamento razoável, claro está.
Agora sim, calma e metodicamente, posso aceitar o desafio d'esta e d'esta mamãs.
5 Manias da minha bacana? Ui...

1º Gosta de beber o biberon comigo de pé, a andar de um lado para o outro mas sempre frente à televisão, de onde ela não descola os olhos...

2º Choraminga sempre que é retirada da banheira do banho e só se cala se começar a secar-lhe o cabelo com o secador, no mínimo. A bacana é mesmo cabeluda e fica a curtir o barulhinho e o ventito na fronha. (isso puxou à mãe porque eu também gosto...)

3º Adormece com o Nhonhó Sapo (outros chamam Doudou) em cima da cara. Literalmente. Mas não sem antes se arranhar toda na cara enquant esfrega o sonito dos olhos.

4º Quando quer atenção começa a chorar com tosse. Eu explico... não está a chorar. O som é semelhante mas com tosse incluída. Tipo seca... Cala-se de imediato e com um sorriso rasgado se lhe pegamos ao colo ou se brincamos com ela. Egocêntrica!

5º Não curte do ovo. Nunca gostou e não vai gostar jamais! No carro só se cala se alguém estiver lá atrás com ela e, de preferência, a segurar-lhe na mão. A pirralha tem 3 meses, caramba!! Manias de gente grande!

Mas é a coisa mais preciosa que eu e o tipo com quem casei, com quem vivo e de quem tenho uma filha, temos na vida.

05 maio, 2006

+Valeu a pena a semana de dedicação:

UM JÁ ESTÁ!
Three to go...

(Hoje entreguei o trabalho na Faculdade e tive de levar a minha bacana atrás... lá fui, de carrinho e ovo... e parecia um bicho quando entrei no recinto! Tipo freakshow! Deram-me prioridade na reprografia mas não escapei aos olhares de quem acha que "filhos" e "universidade" não combinam. Não censuro, com a idade deles teria pensado o mesmo, quiçá?! Mas os olhares fixos no "ali vai uma mãe" foi uma coisa estranha...)