O Cósmico Segredo das Horas Vagas

21 setembro, 2005

+ O Regresso






Fátima Felgueiras voltou. Meteu-se num avião no Rio de Janeiro, despediu-se da terra que também está inscrita na sua pele, e regressou. Dificil imaginar com que nó na garganta.
Diz que quer provar a sua inocência em solo português. Ninguém esteve lá para a ouvir.
Chegou a Lisboa, ao aeroporto da capital, e ninguém esteve lá para a ver além dos Ray-Ban da Polícia Judiciária. Deverá ter sido algemada... ninguém estava lá para ver. Talvez tenha desejado dizer algumas palavras mas não estava ninguém para a ouvir.
Não houve espectáculo.
A notícia é pura e dura.
Fátima Felgueiras chegou, foi detida, encaminhada para o Porto. E ninguém viu nada.
A SIC parece estar um pouco desolada por não ter recebido um telefonema, um aviso, um sinal de fumo, um telegrama sobre este regresso. Talvez esteja mal habituada... Mas os filhos e irmãos de figuras de proa política e judicial não trabalham todos na SIC... Já bastou a promiscuidade no processo Casa Pia .

16 setembro, 2005

+ Carrilho descarrilou... e a SIC?


Discute-se, agora, se a última palavra de Carmona foi «extraordinário» ou «ordinário». Honestamente, pouco interessa...

Num debate de ideias com poucas ideias, tudo se pautou pela troca de insultos e interjeições. O moderador tinha a obrigação de se impor de outro modo, mais assertivo e empreendor em colocar um ponto de ordem informativo naquela conversa tão pouco produtiva para o público.

Outra questão deontológica se coloca. Carrilho sabe que findado um debate o off não é automaticamente accionado nas câmaras. Mesmo assim, empreendeu uma manifesta falta de educação e de espírito democrático ao negar um cumprimento entre pares. Carmona ficou de mão estendida... E a legitimidade do canal para colocar as imagens no ar? Levanto dúvidas. Confesso que não tenho uma opinião totalmente formada e a questão até deveria ser debatida entre jornalistas. Os microfones estão desligados mas o canhão da câmara é potente e as legendas substituem a palavra mal ouvida.

Quando é seguro respirar fundo? No lugar de Ricardo Costa teria também colocado as imagens no ar. Mas não sem grandes dúvidas...

+ Sócrates só recebe Mails




«A sua Democracia não lhe permite receber uma carta?»
O Sindicalista da Fenprof tentou mas não conseguiu.
Era uma carta mas podia ser explosiva...
Uma carta-bomba, sabe-se lá!
Não foi bonito, senhor primeiro-ministro...

15 setembro, 2005

AR

"Para Lamentar"

Há pouco tempo estava a passear pelos corredores da Assembleia da República quando deparei com uma exposição que julgo tinha o nome "30 anos de Liberdade". No pouco tempo livre, entre reportagens, lá fui mirando as fotos da primeira Assembleia Constituinte no pós 25 de Abril de 74 e qual não foi o meu espanto:
As personagens deste filme ainda estão em cena!!! O que era uma história bonita em meados de 70 virou um filme de terror com o passar do século.
Que raio de classe política temos que tem medo de abandonar o palco?
Que raio de povo é este que se entrega nas mãos de quem já tanto errou?
Não está em causa o valor destes actores mas, por muito boa que seja a maquilhagem, não se consegue representar sempre o papel de jovem e um dia a máscara cai.
Senhores políticos, não confundam a “obra-prima do Mestre Picasso” com o pico d’aço do mestre-de-obras, honrem a vossa idade e deixem a ribalta por vossa livre vontade antes que passem pela vergonha de serem apupados logo no início do primeiro acto.
Só assim conquistarão o direito a um “Lugar na História”.

14 setembro, 2005

+ Manifesto "Anti-MonÁmi"

Tem graça... Não implica apenas a saudosa idade ou a falta de berço.
O blog Lisboa Que Amanhece tem mesmo graça. Vale a pena ler o que outros pensam de Soares. Os que não lidaram com ele, que nem lhe experimentaram o hálito mas que o sentiram nos duros anos 80...

09 setembro, 2005

+ Saramago dixit... Who cares??

Na verdade, quem quer saber?
O auto-exilado em Lanzarote, não fossem os impostos nacionais reduzirem o valor absurdo dos prémios que nunca foram doados a causas nobres, resolveu falar e lá estava um microfone para o ouvir. Como se não tivessemos opinion-makers de relevo, como se o "nobelístico" fosse o pilar da autoridade política, como se interessasse a todos aqueles que não têm os benefícios fiscais espanhóis, quem é apoiado por Saramago.
O que me espanta é o tempo de antena que os nossos canais preservam para dar voz ao dito senhor que hoje resolveu avisar o território renegado que vai apoiar dois candidatos à presidência. E não consegui esconder o esgar ao ouvi-lo proferir a barbaridade: apoia Soares e Jerónimo. Disse e acrescentou não ver qualquer impedimento (tendo em conta que é amoral, eu entendo...) em ser militante comunista e apoiar também a causa "soarística". Compreendo a solidariedade etária entre ambos, mas sabendo-o mais esperto do que inteligente, antevejo também a insinuação por detrás do simplismo das palavras.
É certo e sabido que Jerónimo tem escassas hipóteses em chegar ao patamar presidencial. Nós sabemos isso, Saramago também deve saber. Tendo em conta a promessa eleitoral de Jerónimo em não desistr a favor de ninguém, o que seria um verdadeiro acto de coragem e coluna vertebral, é rápido o raciocínio conclusivo. Sem rodeios e mais estruturas narrativas aqui se diz: o já referido senhor apela ao voto a Soares, o elegível. Se o comité central esteve bem atento só pode ponderar um telegrama para Lanzarote requisitando a entrega do cartão. É que votar em Soares e guardar a foice e o martelo na carteira é quase pecado. Só me consigo recordar de uma analogia gastronómica um pouco tonta: é como ver a minha amiga Isabel, vegetariana há 16 anos, a jantar carne de porco à alentejana...

+ Jornalistas e Jornaleiros

Ninguém tinha grandes dúvidas que o "detonador" (já basta Portugal!) não estava à mercê das mãos de Sócrates... Aquilo era, definitivamente, para o boneco. Apesar de tudo, o desfasamento entre mãozinha do 1º Ministro a agir e a queda do 1º edifício é hoje tema de jornal e foi ontem destaque na SIC.

É, sem dúvida, um fait diver sem importância. Confesso que não incluiria à cabeça do directo que Pedro Coelho protagonizou no Jornal da Noite (com alguma confusão discursiva já manifesta no Especial Sic Notícias)... Apesar de tudo, em termos de valor-notícia, é uma historieta totalmente residual. Parece-me óbvio que o detonador tão ACME era, e foi, puramente simbólico. Se os jornais omitiram o facto, não me parece de bom senso lançar, com rajada, suposições de pactuação entre media e governo. Convenhamos... É que, queiramos ou não, há coisas mais importantes para dar espaço nos jornais do que o teatrinho do detonador...

Não está em causa o rendimento anual do 1º Ministro, as suas opções sexuais ou as zangas de bastidores dentro do partido. Como tal, penso que existem exercícios jornalísticos comparativos bem mais relevantes e profícuos a fazer. Mas ser "ardina" parece assemelhar-se, cada vez mais, à figura de "treinador de bancada". Todos querem, todos pensam que são.

+ Que tipo de tuga somos nós...

O teste é curioso mas cheira-me que o resultado não difere muito de resposta para resposta. Mas vale a pena fazer. O pudor inibe-me de revelar o meu resultado... muito embaraçoso.

Pulga Patuda...

+ A Ana... malhou-se

Estou com sincera pena da rapariga. Não é coisa bonita de se sentir, mas não me surge mais nada à comoção senão Pena. A miúda já cantou ao lado do paizinho as 24 rosas e outras letras incestuosas, mas agora é uma verdadeira lástima. E a RTP, com a obrigação pura de serviço público, convida-me a Ana Malhoa para a Praça da Alegria! E lá surge, pavoneando-se com trapinhos que minguaram na máquina de lavar, cheia de piercings metaleiros a espetarem-se em todos os orifícios da cara e afins. No recinto de um mercado qualquer, ao lado da banca do peixe, salta e canta, num espanholês de Miami, um estilo que a própria designa de "Reagaton" or something like it. E só me surge pena...

07 setembro, 2005

+ Nós estamos aqui!!!

Existem programas realmente chatos nos canais cabo. A SIC Mulher tem vários e passei agora os meus olhos por um deles: um show americano qualquer com uma "caterer" qualquer que faz jantares e festas quaisquer e nós temos de assistir ao manancial de compras para entradas, bebidas, pratos principais e sobremesas daquelas que é bonito ver mas não comer.
A rapariga, a dita "caterer", lá foi à peixaria comprar um peixito qualquer para a festança e pediu o auxílio do especialista de serviço no tema da peixeirada. O Joss Cerqueira lá foi explicando num inglês macarrónico que tipo de peixito devia ela comprar e para que tipo de cozinhado. O Cerqueira do Joss despertou em mim aquela nuance familiar de conhecimento etimológico: "Nome destes deve ser tuga..." E mistério desvendado quando o Joss lhe diz que o seu peixe preferido era um tal grande e vermelho que em português se chamava Ruca mas que em inglês se diz Scorpion.
As nossas raízes são sempre essas. O pescador, o merceeiro, o carpinteiro cujo nome tipicamente português (Rocha, Mendes, Ramos, Dias, Duarte e afins) surge no final de um genérico de um filme estrangeiro qualquer. Resta-nos isto. Se calhar, o que interessa é estar lá... e acabou-se...

+ O Anjo voltou!!!

Ele esforçou-se. Limpou, lavou, esfregou e aspirou. Mas a Arlinda é sempre a Arlinda e aquelas mãos angélicas fazem maravilhas na luta milenar contra o pó e na batalha secular contra os germes! A casa está, agora, imaculadamente limpa.
Andámos a penar um mês... um mês sem a Arlinda que foi ver a família, pais, 7 irmãs e um magote de sobrinhos a Boston! USA! EUA!
Boston é uma cidade incrível. À boa maneira americana, é limpa, bonita e civilizada. Um paraíso economicista, consumista e surrealista! Claro está, Arlinda, Aracy e Thierry (os dois rebentos do nosso anjo) fincaram pé e implementaram uma operação de emigração. Mas a terra dos sonhos nem sempre é profícua em realizá-los. Talvez para o ano...
Arlinda voltou à esfregona (o Zé comprou-lhe uma Vileda topo de gama!), ao pano e ao aspirador. Voltou contente, com prendas e sorrisos mas não sem antes telefonar já em solo português ainda imbuída do espírito do Sam. Ligou. Atendi. Sabia que era o nosso anjo. Arlinda cumprimentava-me do outro lado da linha:
«-Hiiiiii!»

+Extrema Direita, Nacionalistas e Maus Jornalistas

Parecerá abrupta a alteração discursiva, mas além de estar a caminho de desempenhar o papel de mãe, visto, há mais de uma década, o fato de Jornalista. E nas incursões bloguísticas diárias encontro verdadeiras pérolas.
«São questões interessantes mas diferentes: é um erro noticiar a partir de um blogue anónimo; é um erro dar importância de notícia a uma (três?) opiniões que provavelmente não representam mais ninguém;Quanto a noticiar actividades de organizações de extrema-direita: se elas cumprirem algum critério de notícia e tiverem protagonistas identificados podem ser noticiadas. Nem que seja para dizer que são ilegais. A dimensão dessa notícia é que pode variar.»
O Jornalismo não é anti-democrático pela sua natureza e muito menos se pauta por uma Constituição traumatizada por 40 anos salazarentos. A cobertura de eventos nacionalistas ou de extrema-direita, sem que o grande público, afinal, saiba de facto o que estes movimentos são e pelo que se compõem, é tão legítima quanto as manfestações gays e lésbicas, tão censuradas e punidas pela sociedades católica portuguesa, por exemplo... Dar visibilidade ao que incomoda deveria, ser então, punido eticamente. Dar voz aos movimentos pró-aborto, tão polémicos e censurados por uma grande massa social portuguesa, poderia ser pecado, por essa bacoca ordem de ideias. Não podemos fechar os olhos ao fenómenos nacionalista e varrê-lo para debaixo do tapete porque é incómodo, porque tememos o regresso aos tempos "da antiga senhora" ou porque a comunidade africana em Portugal é vasta e forte.
Não interessa aos jornalistas evitar o ferimento de susceptibilidades raciais, culturais ou sociais. Há notícia? Noticia-se! O que tem sido ignorado ou evitado é o tratamento racional, jornalístico e consistente dos fenómenos nacionalistas! Como ninguém quer arriscar, tapa-se o olhar com "a peneira", deixando um buraco deontológico do tamanho do buraco do Ozono! Antropológica e sociologicamente é necessário, se não urgente, a análise do crescimento das associações e do recrutamento de portugueses cada vez mais jovens a ideologias de extrema direita! Informar é esclarecer! O debate social seria das medidas mais sérias e profícuas. Colocá-lo a um canto para cair no esquecimento é dos maiores erros actualmente. Não ser ético é ignorar, manifestamente, os fenómenos sociais... por mais politicamente incorrectos que eles sejam. A esquizofrenia jornalística produz-me surtos de urticária! A auto-censura é o pior jornalismo.