Não suporto que entrem na MINHA casa, se sentem no MEU sofá e me digam, à boca cheia, quando me vêem preparar um biberon: «Não deixe de amamentar a menina! Mesmo que seja uma aguadilha, continue sempre!»
Contei até 10.
Ninguém sabe pelo que padeço. Ela nunca ficou satisfeita só com a mama. Teve sempre, para grande tristeza minha, de tomar suplemento. E nesta incansável luta por um leite que a preencha já fiz de tudo. Comi, alarvemente, bacalhau. Bebi litros de chá de funcho. Apertei o nariz e emborquei cerveja preta depois de lhe tirar o gás. Tento, a grande esforço, tirar leite com a bomba e fico prostrada com os 40 ml que nunca ultrapassei. Não suporto vê-la com cólicas ou obstipação porque o leite de lata a isso leva... Não gostaria de vê-la feliz com o meu leite? Caramba, haveria lá alguém que não ficasse mais feliz por isso do que eu?
Virem a minha casa para me dizerem que dar mama até aos 8 meses é que é o ideal... o NORMAL... de preferência até o leite acabar. E eu penso. E eu? E quando cuido de mim, do meu corpo, do meu bem-estar? E o bem-estar da minha filha é passar quase um ano agarrada à mama? Sem ingerir os sólidos, as papas, as texturas da sopa que os faz crescer mais fortes, preparados para os anos seguintes, com um estômago e intestinos fortes e habituados a uma nutrição futura?
Amamentar enquanto me sentir bem. Enquanto eu achar que vale a pena, enquanto não for um sofrimento, uma angústia que é, a todas as mamadas, estar na incerteza se desta vez ela vai ficar satisfeita ou não. Começo a achar que não. Em quase todas ela chora. Muito. E vontade não me falta a mim.
Amamentar até às "calendas gregas" é uma opção... e, acima de tudo, uma vocação. Dar-lhe mama nos primeiros meses seria o ideal... Transmitir-lhe a serenidade da proximidade do meu corpo e um alimento rico, repleto de defesas e anti-corpos, produzido por mim e necessário nos primeiros tempos. Seria a concretização de uma expectativa minha e não está a ser possível.
Não quero o último reduto... a aguadilha pobrezinha só para dizer que a amamento. Quero-a forte e alimentada... quero-me a mim feliz e de bem comigo, com o meu corpo, com a minha rotina. Presa à prática de amamentação de 3 em 3 horas quando a criança já tem dentes parece-me um absurdo.
A ligação à minha filha, a conexão emocional não está no meu mamilo e na boca dela. Está na vida. Na vida a duas que nos espera. Não sou menos mãe, não tenho menos amor por ela. É o meu incomensurável amor por ela que me faz decidir que não a quero a passar fome só para que a minha dignidade feminina fique sem mácula. Não!
Sermos mãe e filha vai muito além do acto de dar de mamar. Está no acto de amar e este não se resume a isso.
Virem a minha casa para me deixarem num estado lastimável, não, obrigada!